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domingo, 26 de abril de 2020

Ansiedade de partir

Sempre gostei de planear tudo o que faço, não gosto de imprevistos e gosto de até de os prever.

Apesar de ter lido imenso sobre o caminho, debrucei-me mais sobre os testemunhos de inúmeros de peregrinos, os seus pensamentos, medos e as suas vivências e aprendizagens.

Quando escrevi estas linhas, ainda não tinha decidido a data certa partir, mas tinha a certeza que o pensamento e a alma já estavam no caminho. O Caminho não começa com o primeiro passo, começa bem antes, quando no nosso intimo tomamos a decisão de partir. É a partir daí que a nossa alma se inquieta ainda mais e tem uma ânsia enorme de se fazer ao caminho.  Dou por mim a caminhar pelos intentos bosques galegos, a imaginar como será atravessar a Serra da Labruja, mas curiosamente nunca imagino a chegada.

Tinha apenas decidido que iria caminhar pelo Caminho Central Português, com saída da Sé do Porto e que esta mesma saída iria acontecer num espaço de dias, talvez 3 ou 4.

Por esta altura os pensamentos são como os caminhos...Todos vão dar a Santiago. Por rotas pré-estabelecidas, muito ou pouco frequentadas, todos queremos lá chegar. Mas como já o referi, não penso na chegada. Não é o destino que mais importa, é a jornada em si...é o Caminho!

Somos aos milhares os peregrinos de Santiago, percorrendo diversas rotas para lá chegar e, mesmo percorrendo a mesma rota, fazemos todos um caminho diferente...o nosso próprio caminho. O Meu Caminho!

Isto é o que espero alcançar, é o meu propósito final. Abrir-me para permitir que o Caminho passe por mim.

É difícil dominar a ansiedade quando falta tão pouco (escrevo estas linhas a 27 de Fevereiro e saí para o Caminho a 2 de Março) para incorporar a mochila e calçar as botas.  

O corpo não está preparado...acho que nunca estará...mas vai ter que se habituar. A mente já está no Caminho há muito tempo...meses talvez! Está preparada para absorver tudo o que haverá para absorver, para se transformar, se adaptar e, o mais importante encerar ciclos passados que têm obrigatoriamente que ser encerrados. Há dúvidas e medos que têm que ser deixados no passado, que têm que ser eliminados para que possa perspectivar um futuro diferente.

Escrevo estas linhas junto ao mar, no meu local favorito e onde procuro sempre um reconexão com o meu EU mais profundo. É o meu confessionário privado!

Como sempre os meus olhos recaem sobre o azul profundo do mar, miram o horizonte à procura de algo que não aparece, tem sido sempre esta a rotina nos últimos meses. Ao mesmo tempo que olho o mar e escrevo, a mente está de botas calçadas e procura já a mudança necessária e urgente.

O dia da saída parece-me ainda longínquo, distante...tenho ainda um jantar com os meus filhos no dia anterior à saída e estaria longe de imaginar que seria a última vez que os iria abraçar e beijar durante uns meses...Maldito Coronavirus!

O meu maior medo neste momento nem se quer é o do desconhecido, da dureza física ou mental que irei ter pela frente. É apenas o medo de ficar viciado no Caminho...  

quarta-feira, 22 de abril de 2020

Vontade de partir!

Pois é...às vezes é assim!
Tinha tantos planos que se desvaneceram...
Tinha tantos sonhos que se esfumaram...
Aprendi da forma mais dura que não somos nós que estamos no comando. O universo tem planos para nós, porventura planos maiores. Nós apenas o cumprimos, apesar do nosso livre arbítrio.

É nestas alturas que sempre surge a pergunta: Porquê?
E são tantos os porquês que nos encontramos perdidos num emaranhado confuso de pontos de interrogação. Sem respostas. Perdidos...Confusos...

Já há alguns anos cogitava sobre os Caminhos de Santiago. Primeiro como sendo uma aventura engraçada de fazer e depois, quantos mais porquês surgiam, olhava para o Caminho como uma forma de me reconectar, ter tempo para me ligar de novo à mãe terra, à natureza, ao divino. Precisava de uma oportunidade e de uma forma de me conectar de novo comigo próprio. Fazer um "reset" da mente, do corpo e da vida. Limpar a memória e o espírito para poder encontrar de novo o rumo. Afinal, "de que servem as velas ao vento se o navio não tem destino..."

Precisava de aprender a arte da aceitação, para simplesmente aceitar o que o universo tinha já planeado para mim. Para isso necessitava de ter tempo de qualidade para a necessária introspecção.

Sempre gostei de estar sozinho, sou aquilo a que vulgarmente se chama um lobo solitário, mas foi preciso chegar aos 48 anos de vida para perceber que juntando o prazer de estar sozinho ao gosto de caminhar, os pensamentos ganham mais fluidez e clarividência.

Muitos apelidam-no de Chamamento. O Caminho chama por nós, não por todos, apenas por aqueles que precisam e estão preparados.

Iria, pois então, peregrinar. Teria que descobrir o significado de peregrinar. Esta foi, talvez, a minha primeira pergunta. O que é peregrinar? Qual o significado?

Uma viagem com muitas viagens...

 
Sejam bem vindos a este espaço de partilha. Após ter feito o meu primeiro caminho resolvi pôr por escrito de uma forma mais ordenada todas as notas que fui tomando ao longo das viagens que fiz durante 10 dias. Sim, digo viagens porque num só caminho até Compostela fiz várias viagens ao mais profundo do meu intimo, trabalhei o meu "eu" em diversos aspectos. E é precisamente isso que quero partilhar.
Passou, entretanto, um mês desde que entrei na Praça do Obradoiro. Foi o tempo que demorei a processar, a interiorizar e até talvez compreender os ensinamentos retirados desta jornada única de vida.
 

Inicio, agora, a publicação destes textos, revistos e com os acrescentos da memória e da alma sobre o que vivi e senti ao longo de aproximadamente 250 mil metros.

Apenas agora me sinto pronto a partilhar, talvez em jeito de catarse pessoal, para cimentar tudo o que foi trabalhado, para assumir tudo o que senti e mudei.

Lentamente, a cada passo, a cada metro, a cada quilómetro, as emoções fluíram levando-me desde o riso até às lágrimas.
É tudo isso que preciso de partilhar.

Nestes textos não haverá pormenores técnicos dos trilhos, dos equipamentos, dos alojamentos ou até mesmo, salvo um ou outro caso, dicas de alimentação. Para isso, existe um largo número de sítios na Internet.

Espero que se divirtam tanto quanto eu me diverti a escrever e a reviver as memórias daqueles 10 dias.

Ansiedade de partir

Sempre gostei de planear tudo o que faço, não gosto de imprevistos e gosto de até de os prever. Apesar de ter lido imenso sobre o camin...